Pesquisa realizada na Paraíba em colaboração com a Alemanha usará fibra de coco na produção de plástico biodegradável
Um projeto de pesquisa em bioeconomia relevante para a ciência na
Paraíba apresenta os bons resultados conquistados na produção de peça em
plástico biodegradável para automóvel. Uma das matérias primas dessa composição
foi a fibra do sisal. Mas os pesquisadores agora estão com um novo desafio,
substituir a fibra do sisal por outra descartada como lixo: a fibra do coco.
O título da pesquisa coordenada pela
professora e pesquisadora Dra. Renate Wellen pelo lado brasileiro é “BestBioPLA
- Compósitos PLA totalmente baseados em bio com estabilidade a longo prazo”
(“BestBioPLA - Fully Bio-based PLA Composites Featuring Long Term Stability”).
É uma cooperação entre o Brasil e a Alemanha e já envolveu até o momento 15
cientistas.
A pesquisa em compósitos com essas
características é inédita no mundo. Está em andamento desde 2019 nos
laboratórios da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), da Federal da
Paraíba (UFPB) e no Instituto Fraunhofer (IFAM), com sede em Bremen, na
Alemanha.
O presidente da Fapesq, Roberto
Germano, destaca: “Esse projeto é um ‘case’curioso porque representa a quebra
de um paradigma dentro da academia em relação às empresas. Existe um fosso
muito grande entre as iniciativas da universidade e os interesses da indústria
e esse distanciamento é prejudicial para o processo de inovação”.
O Ministério de Educação e Pesquisa
da Alemanha está investindo mais de €1 milhão; pelo lado do Brasil os
investimentos de €140 mil são feitos pela Paraíba, por meio da Fundação de
Apoio à Pesquisa da Paraíba, a Fapesq. Tem ainda como parceiros as empresas
alemãs Invent GmbH, a Nova Institute e a Rabe Design GmbH.
Para Renate Wellen “não é simples
levantar mais de 1 milhão de euros, mesmo para os padrões europeus. Contudo,
esse projeto obteve resultados muito favoráveis, especialmente considerando as
características sustentáveis do produto, sem agredir o meio ambiente. Além de
biodegradável, uma das matérias primas virá do lixo. A economia circular é
muito bem vinda na Alemanha”.
“Essa pesquisa - complementa
Germano - levada a cabo no lado brasileiro pela Paraíba, atende os anseios em
utilizar materiais biodegradáveis na indústria automobilística que envolve alto
investimento, destinado inicialmente a consumidores de carros de luxo que podem
pagar um produto que atende a questão de preservação do meio ambiente.”
Encontro internacional - Entre os dias
18 e 20 de julho foi realizado o Encontro internacional do projeto BestBioPLA
na UFPB, em modo híbrido. Imagens das peças confeccionadas foram apresentadas,
assim como os principais resultados dos projetos e a definição de prontos
estratégicos para futuras colaborações.
O encontro teve a presença do Reitor
da UFPB Prof Valdiney Veloso, do Presidente da Fapesq, Roberto Germano, do Pró-Reitor
de Pesquisa da UFPB Valdir Andrade, da Profa Renate Wellen (Coordenadora do
projeto pelo lado Brasileiro), da Dra. Katharina Koschek (Coordenadora do
projeto pelo lado Alemão). O evento contou com a participação presencial de
pesquisadores da UFPB; do Fraunhofer IFAM (Bremen): além de Katharina Koschek,
Vinícius Beber, Hannah Line; e da INVENT GmbH: Christopher Platzer;
virtualmente participaram pesquisadores da UFCG, da NOVA Institute, do
Fraunhofer IFAM e da Rabe Design GmbH.
A comitiva visitou as instalações da
Fapesq, PacTcPB e CertBio (UFCG) em Campina Grande. Na Fapesq foi recepcionada
pela Chefe de Gabinete Ruth Silveira e pela coordenadora Patrícia Costa; no
PacTcPB pela diretora Nadja Oliveira e no CertBio pela professora Suédina
Silva.
Projeto avança na pesquisa com a
fibra do coco
O desenvolvimento do Projeto
BestBioPLA gerou a síntese de novas resinas poliméricas e a fabricação de
compósitos, os quais foram caracterizados por normas internacionais visando
aplicações para indústria automobilística.
Durante o Encontro Internacional na
UFPB, o presidente da Fapesq, Roberto Germano, sugeriu a utilização da fibra do
coco no compósito, um material abundante no Brasil. A ideia foi discutida e
acatada como um desafio para as próximas etapas de pesquisa.
“O projeto tem por motivação o
desenvolvimento de materiais eco-eficientes de alta performance para a
indústria automotiva”, explica Renate Wellen. “São utilizadas matérias-primas
regionais, óleos vegetais e fibras naturais (a exemplo do sisal), de ambos os
países, na produção de compósitos biodegradáveis para desenvolver produtos com
as propriedades requeridas para o setor automobilístico”.
Foram cumpridas as etapas de análises
dos compósitos, estabilidade térmica, fotodegradação, biodegradação e investigação
das propriedades mecânicas.
No atual estágio da pesquisa as peças
plásticas biodegradáveis são destinadas a compor as portas automóveis e já
foram demonstradas em feira na Alemanha. Estarão novamente expostas na Feira
Internacional K 2023, em Düsseldorf. Segundo Renate Wellen a produção se
encontra em escala real. Para comercialização será preciso a adequação a uma
escala de produção. E ainda, foi solicitado o registro de patente na Alemanha.
“Agora nós iremos aperfeiçoar a
síntese do polímero utilizando a fibra de coco. Vamos buscar peritos em fibras
de coco e iremos procurar empresas, tanto no Brasil quanto na Alemanha, que se
interessem pelo projeto”, informa Wellen.
Wellen afirma que as instituições e
órgãos no Brasil e na Alemanha estão satisfeitos com os resultados. As metas
foram atingidas e ambos os lados querem dar seguimento.
Projeto gera publicações em revistas
científicas de alto impacto
A produção de artigos científicos é
outro destaque do Projeto BestBioPLA. Mais de dez publicações já ganharam
revistas internacionais de nível Qualis 1, como a Composites Part B, Journal of
Materials Research and Technology, Polymer Testing (Science Direct) e eXPRESS
Polymer Letters.
A publicação em revistas de alto
impacto confere a afirmação da comunidade científica sobre o que está sendo
desenvolvido; tem um mérito científico. “Estamos presentes no que há de mais
alto nível internacional em desenvolvimento científico e tecnológico”, salienta
Renate Wellen. O sistema de avaliação dos cursos de pós-graduação no Brasil
considera tais publicações, as quais contribuem para o aumento no conceito.
Além disso, ocorre a capacitação de
mestres e doutores brasileiros que tiveram seus trabalhos de dissertação de
mestrado e tese de doutorado em temas correlatos com o projeto. Outros estão em
elaboração. Os pesquisadores se fazem presentes em conferências internacionais
e encontros técnicos.
Márcia Dementshuk (Assessoria
SEC&T)
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