Evasão escolar na Paraíba reduz 82% desde 2014 e índice chega a 2,7% em 2020





 Um dos grandes problemas da educação no Brasil, a evasão escolar na rede pública estadual na Paraíba caiu 82,2% desde 2014 (dados do Inep). No ano em que as escolas implementaram o ensino remoto por causa da pandemia da covid-19, 2020, o índice de abandono escolar foi o menor, 2,7%. Na Paraíba, os esforços para manter o estudante interessado no estudo, a rapidez e a cobertura na implementação das estratégias para o ensino não presencial proporcionaram a nota mais alta do Brasil (6), na avaliação de um estudo publicado pela Fundação Getúlio Vargas que avaliou as ações na educação remota no país em 2020.
A queda na evasão escolar na escola pública estadual na Paraíba começa a se intensificar a partir de 2016, o que coincide com o início da instalação do modelo de ensino para escolas integrais e técnicas, começando com oito escolas. Em 2018 havia um total de 100 escolas nesse sistema. Em 2020 eram 223 ao todo e neste ano saltou para 302 (100 delas são técnicas). Ou seja, 72% das escolas de ensino médio na Paraíba são integrais, sendo a Paraíba o estado com maior oferta de vagas nesse modelo no Brasil, (e ainda existem 118 escolas de E. M. regular e cerca de 150 mil estudantes ao todo na rede).

O desempenho da educação pública na Paraíba se dá por diversos fatores. O Secretário de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia (SEECT) Claudio Furtado destaca a atuação conjunta dos especialistas que integram a secretaria, dos professores, técnicos e trabalhadores nas escolas e o engajamento dos estudantes. Também a união de instituições e associações como a Undime Paraíba, o Sebrae-PB, e a atuação do Conselho Estadual de Educação para a urgente regulamentação das políticas.

Por outro lado, a metodologia do modelo integral tem se mostrado eficiente. O Secretário Executivo de Gestão Pedagógica da SEECT Gabriel dos Santos Souza Gomes, menciona a aplicação no currículo dos programas impulsionadores, elaborados visando a formação básica do estudante para além da escola, após o Ensino Médio: “ Esses programas nascem a partir do modelo de escola integral que traz o estudante para o centro do processo de aprendizagem baseado na construção do projeto de vida desse estudante.”

Com a chegada da pandemia e o consequente fechamento das escolas em 2020, o posicionamento dos gestores da Educação refletiu essa metodologia em nível de políticas públicas estaduais. O pensamento disseminado nas escolas agora estava internalizado na secretaria, voltado para a solução inovadora dos problemas que se esquadrinhavam pela crise sanitária: 

“Foram tomadas ações para manter a rede engajada, alcançando todos os estudantes. Iniciamos com um processo de formação [em ferramentas digitais] pelo qual foi possível atingir 15 mil professores da rede para iniciar no sistema remoto. Depois foi criada a plataforma Paraíba Educa dentro da qual estavam todas as salas de aula virtuais, objetos digitais de aprendizado e materiais didáticos. Mas precisávamos chegar aos alunos que não dispunham de internet. Então foi pensado na TV, em parceria com a TV Assembleia Legislativa, foi criada a TV Paraíba Educa com programação voltada para todos os alunos, ofertadas nos sete dias da semana. Também destacamos um aplicativo de franquia de dados, usado pelos alunos que não tivessem acesso a Internet. E nas localidades onde nada disso alcançava o aluno, foi feito material impresso”, resumiu o secretário Claudio Furtado. 

 

Pesquisa mostra que escolha por métodos digitais de ensino foi contraditória

Os integrantes da pesquisa “Uma avaliação dos programas de educação pública remota dos estados e capitais brasileiros durante a pandemia do COVID-19”, Lorena Barbieri (coordenadora), Luiz Cantarelli e Pedro Henrique De Santana Schmalz, todos do Departamento de Ciência Política da USP, apontaram a demora na implementação das estratégias para a manutenção da educação nos estados e contradições nas metodologias escolhidas. Barbieri e Canterelli ressaltam que “foi contraditório para nós observar que os estados optassem pela internet para o modo prioritário de transmissão do conteúdo escolar, pois não é o meio de acesso mais comum para pessoas de baixa renda ou no meio rural”. 

“Do ponto de vista pedagógico seria a melhor opção, por permitir interatividade, mas, em contrapartida, não houve investimento para possibilitar o acesso. Tiveram estados que não cobriam todos os níveis de ensino para os planos, e até estados que não ofereceram ensino remoto em 2020. Houve uma variação muito grande das estratégias em 2020, o que comprova a ausência de uma diretriz unificada por parte do governo federal, pelo MEC (Ministério da Educação)”.

Luiz Canterelli considera que o ano passado proporcionou experiências e neste ano os resultados desses indicadores serão melhores em todos os estados. “A pedagogia ativa, o estreitamento da conexão entre as escolas, os professores e as famílias são uma oportunidade para que isso se perpetue como política pública de uma relação mais próxima para compreender o estudante também fora do ambiente escolar”. 

A metodologia ativa aplicada nas escolas da rede estadual na Paraíba a partir do modelo das “Escolas Cidadãs Integrais”, proporciona esse acompanhamento por meio dos tutores e  leva o estudante a trabalhar com situações reais, refletindo nos problemas locais cotidianos da comunidade, ou dentro da própria escola, ou em algum empreendimento, buscando e colocando soluções em prática. 

O professor Jessé Júnior, da ECI Orlando Venâncio dos Santos, até 2020, em Cuité, trabalha em disciplinas diversificadas como a “Colabore Inove”: “Nós planejamos o conteúdo de acordo com os sonhos, os projetos de vida dos estudantes. Eu já trabalhei com foco na sustentabilidade, na economia solidária, em música, técnica vocal, instrumentos, montamos uma banda na escola com vários estilos! Cada professor é responsável direto por uns 20 estudantes e fica atento ao rendimento deles”, explica o professor.

Desde o início da pandemia em 2020 ações internacionais mapeiam as iniciativas pelos países no mundo inteiro, por exemplo, o que é feito na Universidade de Oxford. Contudo,  esse radar global não contabiliza o que é feito em nível subnacional, nos estados e cidades. Por isso, a Rede de Pesquisa Solidária, que reúne 100 pesquisadores e mais de 20 instituições, direcionou o estudo sobre educação-covid para esse viés e segue coletando dados e ampliando indicadores em 2021.

Estados que cortaram investimentos em Educação não tiveram resposta ágil para o ensino remoto

O estudo dos programas de educação pública remota publicado pela FGV, coordenado pela professora Lorena Barbieri, detectou que houve um corte muito grande, nos estados em geral, na alocação de recursos para a educação em 2020. O fato está em aprofundamento pelos pesquisadores, para ser contextualizado.

“Nos preocupa constatar o corte que houve na Educação, uma vez que não foram registradas perdas na arrecadação. Estados onde viveram maiores cortes tiveram uma resposta menos ágil em estruturar o ensino remoto”, afirma Lorena Barbieri. 

O Boletim Nº 27 da Rede de Pesquisa Solidária conclui que “a ausência de estratégia para combater a pandemia levou à uma queda média de 9% nas despesas com Educação. O surpreendente é que essa queda ocorreu na maioria dos estados, mesmo naqueles que tiveram ganhos de ICMS. Alguns estados reduziram o dispêndio em educação em mais de 20%” (GO, AL, RJ e PI). Os estados MT, MS, TO e RR tiveram ganho expressivo de ICMS, mas mesmo assim reduziram bastante os gastos em educação.

Na Paraíba, de acordo com informações do Sagres/TCE-PB, a despesa orçamentária executada em Educação se manteve em 2019 e em 2020 em R$ 2,2 bilhões, em números arredondados, com um aumento de 0,5% em 2020. Segundo o Boletim Nº27, a receita corrente líquida teve uma variação positiva entre 2019 e 2020 de 5,4%. 

Para este ano já foram anunciados para a Educação na Paraíba programas de distribuição de notebooks para professores e distribuição de pacotes de dados por meio de chips, em investimentos que totalizam cerca de R$ 73 milhões. Além de programas impulsionadores de incentivo da participação das meninas em disciplinas como matemática, física, química e biologia, o “Progr{ame}-se: Programa Meninas na Ciência e Tecnologia” e a edição de 2021 do Programa de Educação para Inovação e Empreendedorismo Ouse Criar’.

Lorena Barbieri e Luiz Canterelli consideram que o efeito da pandemia trouxe mudanças na educação que se perpetuarão, mesmo quando a presente crise estiver controlada. “As escolas têm novas responsabilidades. Precisam pensar em vigilância digital, que não seria uma responsabilidade direta, mas hoje em dia as escolas estão sendo chamadas para ajudar a identificar casos suspeitos e encaminhar para os órgãos. Os espaços de aulas, de convivência deverão ser repensados, a ventilação…”

“Vamos entrar em um novo desafio, em várias frentes, e tudo isso envolve uma necessidade urgente de investimento e de coordenação. Com os escassos recursos que o país destina para a educação, não adianta investir em programas descoordenados. Precisamos utilizar da melhor forma e compartilhar com governos locais para abranger e acolher o maior número de alunos possíveis”, complementa Barbieri.

A publicação dos resultados da continuidade desses estudos pela Rede de Pesquisa Solidária com a inclusão de outros fatores como o retorno das aulas em modo híbrido estão previstos para o próximo mês.

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