Ao desejar os melhores votos de Ano novo à professora
Francy recebi a notícia de que um de seus alunos, o Felipe, foi contemplado no
Prêmio Amelinha Theorga, pela Lei Aldir Blanc na Paraíba, promovido pela
Secretaria da Cultura da Paraíba. O uso do prêmio de R$ 5 mil está planejado:
“Vou poder finalmente investir no meu notebook, em material [para pintar] e
consertar minha bicicleta”. Felipe da Silva Batista dá mais um passo em direção
ao seu projeto de vida estabelecido durante as aulas na Escola Cidadã Integral
Técnica Alice Carneiro. Essa conquista atesta a eficácia do modelo pedagógico
empregado na educação pública da Paraíba pela Secretaria Estadual da Educação e
da Ciência e Tecnologia, SEECT.
A tela
“Renascimento” irá compor o Acervo da Cultura Paraibana – Memorial da Pandemia.
Retrata em tamanho artista um pavão com a plumagem aberta, o colorido faz uma
volta no círculo cromático e nossos olhos acompanham o movimento abrindo-se,
pena por pena. Foi pintada durante a pandemia no estranho ano de 2020.
“Foi um
ano cheio de dificuldade e criação de autoconsciência, com meses nos quais não
não tinha inspiração nem para fazer o que eu mais amo. Porém, a vida é repleta
de dificuldades e a maior diferença desse ano foi que a realidade do nosso país
estava estampada na nossa frente o tempo todo, uma realidade triste, amarga
onde a arte mais uma vez foi fundamental para sentir desagravo”, respondeu
Felipe quando perguntei-lhe como atravessou este ano. “Inclusive, ele teve o
corona”, completou a professora Francy, referindo-se ao vírus da covid-19.
Felipe e
outros 20 colegas são alunos das disciplinas de Artes e de Projeto de Vida,
ministradas pela professora Francineide Lira Ferreira, a Francy, da ECIT Alice
Carneiro, em Manaíra, João Pessoa. As aulas avançaram mesmo com o ensino não
presencial na pandemia e apesar das dificuldades, mantendo a essência
pedagógica das Escolas Cidadãs Integrais, as ECIs, na aplicada na Paraíba, como
explica Léia Gonçalo, Gerente Executiva de Ensino Médio:
“O modelo
pedagógico aplicado nas Escolas Cidadãs Integrais, tendo como centralidade o
Projeto de Vida, é apoiado na Pedagogia da Presença que possibilita aos
professores olhar cada estudante como ser único e cheio de potencialidades e
talentos.”
“A
Presença afirmativa de toda equipe escolar e o apoio ao protagonismo juvenil,
que leva ao jovem a se reconhecer - não apenas como ser transformador da
sociedade, mas também como alguém que pode sonhar e realizar -, tem feito a
diferença na vida de muitos estudantes que têm na educação o apoio para ver
seus sonhos e talentos sendo descobertos e reconhecidos. Foi na escola, com o
apoio de seus professores, que Felipe se descobriu artista e aprendeu a voar e,
principalmente, a inspirar outros jovens”, ressaltou Léia Gonçalo.
Modelo de ensino destaca o jovem protagonista
O modelo
pedagógico Pedagogia da Presença foi adotado e adaptado por educadores
paraibanos para acompanhar a realidade local em cada município do estado. Foi
implantado nas ECIs (e nas ECITs, escolas técnicas) em 2016, com oito escolas.
Hoje são 128 Escolas Cidadãs Integrais, 100 Escolas Cidadãs Integrais Técnicas
e 1 Escola Cidadã Socioeducativa. A Alice Carneiro iniciou como ECIT em 2017.
Felipe Batista entrou no primeiro ano em 2019, aos 18 anos, com muita
curiosidade:
“Eu queria
ver o que ia acontecer; como eu ia me adaptar; o que iria ter para eu
aproveitar; como seria estudar o dia inteiro e voltar para casa às cinco horas
da tarde? Eu já conhecia alguns alunos, amigos do bairro onde eu moro, o São
José, mas os professores foram total novidade”, contou em outra entrevista. Não
passava-lhe pela cabeça as oportunidades que toparia:
“Artes. De
cara, me interessei por artes. Arte em série. A professora Francy [Francineide
Lira Ferreira] e a professora Nezangela [Pinheiro] deram oportunidade pra eu
praticar a pintura. Algo que eu não tinha possibilidade, por falta de
condições. Eu tinha o desejo de estudar aquilo e não tinha os materiais, um
ambiente adequado para praticar.”
“Depois
disso, a minha mente expandiu para que eu pudesse entender desde o contexto
histórico até à prática. É impressionante como a mente da pessoa muda. Como a
arte faz com que a pessoa perceba uma interação em tudo. Como a arte tem
ligação com tudo, biologia, matemática, química… E eu sempre levava essas disciplinas
para o estudo da arte. Toda a vez que eu ia pra aula eu relacionava os
conteúdos para o que eu gostava que era artes visuais. O estudo da química,
para o estudo dos produtos que compõem a tinta à óleo, a tinta acrílica… Eu vi
ligações com o que eu queria aprender.”
Quando
entrevistei o Secretário Executivo de Gestão Pedagógica da SEECT, Gabriel dos
Santos Souza Gomes, no mesmo instante ele disse que já conhecia Felipe! Não
poupou-lhe os parabéns:
“No modelo
da Escola Cidadã Integral o aluno e seu projeto de vida ocupam o centro da
escola - explicou Gabriel Gomes. Essa premiação do estudante Felipe foi uma
evidência da realização do sonho dele, de seu projeto de vida, que é na área de
arte. Na escola foi onde ele encontrou refúgio e o apoio necessário para que
ele conseguisse entender o contexto social no qual está inserido, o contexto
econômico, o contexto sócio-político como um todo, para que ele pudesse se
posicionar enquanto cidadão do mundo e decidir qual seria o seu projeto de
vida.”
“Essa é
mais uma conquista desse estudante que tem sido, sim, protagonista dentro da
sua escola e, principalmente, dentro de sua própria vida, sabendo aonde quer
chegar, quando chegar e como chegar. Parabéns, Felipe, e que você possa seguir
em busca de realizar mais sonhos.”
Depois de
quatro anos de trabalho em conjunto da SEECT desde a implementação da primeira
ECI em 2016, com formações dos professores e técnicos, reformas nas escolas,
contratação de novos profissionais, os resultados são visíveis não só através
da experiência de Felipe Batista, mas de inúmeros estudantes por escolas em
todo o estado.
As metas do Projeto de Vida ganham ressignificado
A
professora Fancy, juntamente com outros professores, marcaram a vida de Felipe,
que hoje está com 20 anos. Francy intermediou as entrevistas à quais ele
respondia em vídeo, em áudio e texto: “Pensando no que eu vivi, eu vejo que não
foi fácil. Tiveram muitas barreiras, muitas dificuldades. Como num caminho de
pedras, onde eu ia colhendo as pedrinhas e ia construindo um castelo. E eu
quero construir um mundo muito grande. A Escola Cidadã está me ajudando muito
bem nisso. E é só o começo.”
“Eu tive o
apoio das pessoas que me amam. Isso me ajudou bastante. Eu sabia que mesmo que
eu não conseguisse eles estariam comigo e eu não queria decepcionar. Então,
coloquei isso como um objetivo, faz parte do meu projeto de vida e pronto!”
“Felipe, e
o que você espera para esse ano de 2021?”, perguntei-lhe. “Aproveitar o último
ano no Ensino Médio. Meu objetivo atual é conseguir constância no que é
necessário: a escola e minhas produções. Com o dinheiro do edital vou
incentivar uma vontade de estudar design ilustrativo.”
Quais as
dificuldades que ele mais sentiu? A mesma de vários estudantes que tentam
trabalha e estudar
O concurso
foi justamente para incentivar os artistas na pandemia.
ASCOM PB
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